Estudar ainda é o melhor remédio!

18-03-2010 09:20
A ideia de que a educação não serve para nada é perigosa.

Os Portugueses ainda não digeriram completamente a brutal transformação do ensino superior nas últimas décadas. O universo dos licenciados já não é um corpo de elite inacessível à maioria; pelo contrário, tornou-se uma legião do jovens sem conecção a qualquer estatuto social, familiar ou cultural. A Democratização do ensino trouxe aos jovens em idade de escolher os seus cursos ou aos pais empenhados em ajudá-los a realizar as melhores opções uma série de angústias novas, para as quais ninguém tem a resposta certa. Se até à geração anterior uma licenciatura era o melhor meio de se garantir um lugar no mundo do trabalho, hoje as estatísticas do desemprego acolhem 45 milhares de jovens recém-formados.

Esta difícil situação comporta um elemento de perigo que vale a pena encarar de frente: o da descrença nos efeitos da educação na valorização dos indivíduos e da sociedade que integram. O pior que pode acontecer ao sistema educativo, aos jovens e ao país é a consolidação da ideia de que a educação não serve para nada. Nem para garantir a mobilidade social, nem para prover meios indespensáveis para uma vida confortável. Torna-se, é certo, difícil manter este discuros com jovens que concluíram os seus cursos universitários e estão no desemprego ou em empregos pouco qualificados e mal remunerados; é duro fazer querer aos licenciados que trabalham fora das suas áreas de competência que os problemas estruturais do país, principalmente ao nível da dimensão das empresas, podem ser superados em breve. Mas há também um dado incontornável nestas discussões: sem formação superior o problema pessoal de muitos jovens seria muito provavelmente pior.

Quem está na hora de entrar nas últimas etapas da formação tem por isso de estar convencido de que, apesar da realidade ser dura, o desemprego afecta mais os jovens não qualificados do que os qualificados; que uma formação superior é sempre um ingrediente capaz de nos tornar mais abertos à compreensão do mundo e, por isso, mais adaptáveis às suas exigências; que se estudos superiores será sempre muito mais difícil de se ultrapassar determinadas fasquias remuneratórias ou cargos de relevo.

Com base nestes instrumentos, o que os jovens e os seus pais têm de procurar evitar são armadilhas de cursos que existem apenas por tolerência do Governo e interesse próprio dos seus docentes ou áreas de formação nas quais a saturação de oferta de mão-de-obra é incontornável. Mas também aqui terá de haver uma ponderação cuidada: em Portugal e no Mundo haverá sempre lugar para os melhores entre os melhores, sejam eles da Área da Psicologia, da História ou das Literaturas. Será sempre mais reconhecido um bom filólogo do que um mau engenheiro de sistemas. O que importa é reflectir bem sobre o que se quer, escolher bem as universidades e, principalmente, acreditar que o estudo é não apenas uma condição fundamental para que sejamos cidadãos melhores, mas também para que nos tornemos mais capazes de desempenhar tarefas de exigência superior.

 

TEXTO DE  Manuel Carvalho, EM Jornal Público